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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Minha lourdinas, minha infância


Fecho os meus olhos e me vejo lá, com meu tênis branco e a meia também. A fardinha azul marinho e branca completa o visual. Hoje consegui fazer meu próprio penteado quando amarrei o cabelo todo para o lado com a minha xuxinha de crochê azul. Nas costas a minha mochila/mala rosa e na mão minha lancheira laranja com meu lanchinho "gostoso".
Oba, cheguei cedo! Coloquei minha bolsa na fila do pátio. Fui a segunda da minha turma a chegar.
Enquanto a aula não começa, fico olhando meu álbum de adesivos e colando mais alguns da cartela do Piu-piu que acabei de comprar. Me perco no tempo e quando vejo minha tia já chegou e já é hora de ir para sala. Na fila indiana seguimos em direção à sala. Por entre os azulejos verdes dos corredores, vou escorregando minha mão, fazendo barulho e pisando nos quadradinhos em fila, senão a tia reclama que estamos andando fora da fila.
Na sala as carteiras super pesadas, de madeira marrom escura, estão posicionadas, então corro em direção ao meu lugar de sempre, claro, com cuidado para não prender o meu joelho no assento que levantava. Hoje é dia de recebemos a agenda com nossa foto que vamos dar de presente às nossas mães. As meninas pediram para eu escrever uma dedicatória porque acham minha letra mais bonita, mas eu acho isso uma besteira. Não vejo a hora de tocar para o recreio. Será que Janaína hoje trouxe pippos de milho? Na minha lancheira estão 5 biscoitos brazinhas e o suco de maracujá. Não vou comer o meu lanche, Janaína hoje não trouxe pippos mas vai comprar uma pizza da cantina e eu vou comer um pedaço dela. Queria que meus pais me dessem dinheiro para eu gastar na cantina. Um pastel de vento e uma coca. Humm, delícia!
A gente hoje foi lanchar lá nas mangueiras, nos bancos NLS. Carol brigou com as meninas do vôlei e foi pedir para lanchar com a gente. Tem umas meninas falando com o menino do muro. Não sei o que viram de bonito nele. Estão só se "amostrando"!
Mal deu tempo de lancharmos e brincarmos, a música do fim do recreio começou a tocar e saímos gritando desesperadas para chegar na fila. "Jogue o lixo no lixo, não jogue nada no chão, vamos deixar essa escola, brilhando com esta canção". Iuvanda está ao microfone dizendo "Acabou o recreio, vamos para fila. Acabou! Sem empurrar!". Então irmã Angelina pega o microfone e tenta nos acalmar cantando "Deus é bom para mim. Deus é bom para mim. Contente estou, caminhando eu vou. Deus é bom para mim. La la la lala. La lala la la. (depois em silêncio, fazendo só os gestos)"
Agora sim, estamos prontas para voltar às salas. O braço esticado segurando no ombro da colega, para não ficarmos umas em cima das outras. Mas eu vi minha colega chegando atrasada e furando fila. Ela sempre faz isso.
Voltamos para sala e assistimos mais algumas aulas. Meu caderno de capa dura pequeno recebeu elogios da tia. Mais tarde, toca a música indicando o fim da aula.
Corro em direção ao cantinho da grade que dá para ver o portão. São 17h e hoje espero que mainha chegue cedo para me buscar. Não vou nem brincar com as meninas, porque ela pode chegar e não me encontrar. Mesmo Iuvanda estando no som anunciando os pais que chegaram para buscar seus filhos, tenho medo de não escutar chamando o meu nome. É melhor ficar aqui na grade esperando. "Tchau, Marina". Queria ir cedo como ela. Na verdade, o pessoal do ônibus do colégio sempre sai antes de todo mundo.
No entanto, o céu começa a escurecer. Deu 18h e fecharam o portão de trás. Droga! Vou ter que ir para o portão da frente porque mainha ainda não chegou. O porteiro Psiti está lá sentado, não deixando que a gente ultrapasse o portão. "Será que aconteceu alguma coisa com os meus pais?"
Graças a Deus, não. Vejo o carro chegando e saio correndo. Já estou atrasada para natação. Minha bolsa já está pronta no carro e ali mesmo coloco o maiô. Só vou chegar em casa lá para as 21h. Vou deixar para fazer minhas tarefas quando acordar amanhã, mas só depois de assistir Fada Bela no programa Caça Talentos.
Quando o dia finalmente chega ao fim, me deito na cama e penso o que tem para fazer amanhã. Acho que vou levar minha pasta de papel de carta para trocar com as meninas. Boa noite e até amanhã!

4 comentários:

Raissa disse...

Sara, emocionei! Belo texto! Parabéns!

alana m. disse...

Lindo Sarinha, deu ate pra ver todas as cenas que vc descreveu.
Hoje "A saudade bateu. Foi que nem maré." ne? O bonito dessas memorias é que a gente nunca esquece, passe o tempo que passar. Feliz é quem teve uma infancia tao feliz pra se lembrar! Melhor que isso so se fosse pra sempre.
Saudades tuas!

Marina disse...

Não canso de dizer: a melhor época das nossas vidas! Um lugar que só em se citar o nome só nos traz lembranças boas! Hoje, mais do que nunca, sou agradecida por cada um que fez parte de tudo isso. Afinal de contas, eu não seria nem metade, nem um terço do que sou hoje se não tivesse estudo lá! :)

allanaelizabete disse...

Como me emocionei, não estudei essa época nas Lourdinas mas relembrei do meu tempo, como era bom...Sarinha vc tem o dom de escrever, vc faz com que a gente imagine e sinta que está nessas cenas que vc descreve...Texto lindo!